terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Soneto do Amor Matemático

Fazer síntese não é meu forte,
Reduzir para formular uma equação
Temas relacionados ao coração
É um ofício ligado à sorte.

Assim, com uma caneta boa de corte
Faço versos, construindo uma função,
Para fazer sorrir, trazer emoção,
Contra a tristeza, o mal, a morte.

Pôr como variável na integral
O mais nobre sentimento, amor,
Não é garantia de nada, é venal.

Melhor parâmetro seria a dor
Ou a distância, tornando irreal,
Conjunto vazio, sem tirar nem pôr.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Haicai de verão

Chega o verão
Nas chuvas tudo dilui
Menos o calor.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Nem sombra, nem sol, nem vento

Para onde irei?
Para onde fugirei?
Já não sei, aqui ficarei.

domingo, 25 de outubro de 2009

Quero. Tento. E ponto.

Acho que Carlos Drummond de Andrade, no fundo, era um tremendo de um carente. Porém sempre soube, magistralmente, registrar isso. Não vou negar que as vezes me sinto como ele nesse poema. Sem problemas. O negócio é jamais deixar de tentar. Quero. Tento. E ponto. Quem dera tudo fosse tão simples.

Quero, de Carlos Drummond de Andrade

Quero que todos os dias do ano
todos os dias da vida
de meia em meia hora
de 5 em 5 minutos
me digas: Eu te amo.

Ouvindo-te dizer: Eu te amo,
creio, no momento, que sou amado.
No momento anterior
e no seguinte,
como sabê-lo?

Quero que me repitas até a exaustão
que me amas que me amas que me amas.
Do contrário evapora-se a amação
pois ao não dizer: Eu te amo,desmentes
apagas
teu amor por mim.

Exijo de ti o perene comunicado.
Não exijo senão isto,
isto sempre, isto cada vez mais.
Quero ser amado por e em tua palavra
nem sei de outra maneira a não ser esta
de reconhecer o dom amoroso,
a perfeita maneira de saber-se amado:
amor na raiz da palavra
e na sua emissão,
amor
saltando da língua nacional,
amor
feito som
vibração espacial.
No momento em que não me dizes:
Eu te amo,
inexoravelmente sei
que deixaste de amar-me,
que nunca me amastes antes.

Se não me disseres urgente repetido
Eu te amoamoamoamoamo,
verdade fulminante que acabas de desentranhar,
eu me precipito no caos,
essa coleção de objetos de não-amor.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Curto.

Seriam precisos 2 meses, 3 semanas e 6 dias para esquecer. Não tem problema. A partir de hoje acabam-se as preocupações: nada mais irá encher, nada mais irá sufocar, nada mais será lembrado. Adeus.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Guardar

Antonio Cícero não é apenas o irmão da cantora Marina, é mais que isso, um dos melhores poetas vivos brasileiros, na minha humilde opinião.

Segue um de seus poemas dos quais mais gosto:

Guardar

Guardar uma coisa não é escondê-la ou trancá-la.
Em cofre não se guarda coisa alguma.
Em cofre perde-se a coisa à vista.
Guardar uma coisa é olhá-la, fitá-la, mirá-la por
admirá-la, isto é, iluminá-la ou ser por ela iluminado.
Guardar uma coisa é vigiá-la, isto é, fazer vigília por
ela, isto é, velar por ela, isto é, estar acordado por ela,
isto é, estar por ela ou ser por ela.
Por isso melhor se guarda o voo de um pássaro
Do que um pássaro sem voos.
Por isso se escreve, por isso se diz, por isso se publica,
por isso se declara e declama um poema:
Para guardá-lo:
Para que ele, por sua vez, guarde o que guarda:
Guarde o que quer que guarda um poema:
Por isso o lance do poema:
Por guarda-se o que se quer guardar.

(Antônio Cícero, in: Os Cem Melhores Poemas Brasileiros do Século)

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Hino de Duran

Essa é uma das minhas músicas prediletas do Chico Buarque. Composta para fazer parte de seu musical "Ópera do Malandro", é uma bela sátira ao estado policiesco vivido pela classe artística perante a censura e órgãos afins na ditadura. Realmente, a lei quando quer pegar, tem um abraço de estivador mesmo!

Hino de Duran
Chico Buarque
Composição: Chico Buarque (1979)

Se tu falas muitas palavras sutis
Se gostas de senhas sussurros ardis
A lei tem ouvidos pra te delatar
Nas pedras do teu próprio lar

Se trazes no bolso a contravenção
Muambas, baganas e nem um tostão
A lei te vigia, bandido infeliz
Com seus olhos de raios X

Se vives nas sombras freqüentas porões
Se tramas assaltos ou revoluções
A lei te procura amanhã de manhã
Com seu faro de dobermam

E se definitivamente a sociedade
só te tem desprezo e horror
E mesmo nas galeras és nocivo,
és um estorvo, és um tumor
A lei fecha o livro, te pregam na cruz
depois chamam os urubus

Se pensas que burlas as normas penais
Insuflas agitas e gritas demais
A lei logo vai te abraçar infrator
com seus braços de estivador

Se pensas que pensas estás redondamente enganado
E como já disse o Dr Eiras,
vem chegando aí,
junto com o delegadopra te levar...