quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Nem sombra, nem sol, nem vento

Para onde irei?
Para onde fugirei?
Já não sei, aqui ficarei.

domingo, 25 de outubro de 2009

Quero. Tento. E ponto.

Acho que Carlos Drummond de Andrade, no fundo, era um tremendo de um carente. Porém sempre soube, magistralmente, registrar isso. Não vou negar que as vezes me sinto como ele nesse poema. Sem problemas. O negócio é jamais deixar de tentar. Quero. Tento. E ponto. Quem dera tudo fosse tão simples.

Quero, de Carlos Drummond de Andrade

Quero que todos os dias do ano
todos os dias da vida
de meia em meia hora
de 5 em 5 minutos
me digas: Eu te amo.

Ouvindo-te dizer: Eu te amo,
creio, no momento, que sou amado.
No momento anterior
e no seguinte,
como sabê-lo?

Quero que me repitas até a exaustão
que me amas que me amas que me amas.
Do contrário evapora-se a amação
pois ao não dizer: Eu te amo,desmentes
apagas
teu amor por mim.

Exijo de ti o perene comunicado.
Não exijo senão isto,
isto sempre, isto cada vez mais.
Quero ser amado por e em tua palavra
nem sei de outra maneira a não ser esta
de reconhecer o dom amoroso,
a perfeita maneira de saber-se amado:
amor na raiz da palavra
e na sua emissão,
amor
saltando da língua nacional,
amor
feito som
vibração espacial.
No momento em que não me dizes:
Eu te amo,
inexoravelmente sei
que deixaste de amar-me,
que nunca me amastes antes.

Se não me disseres urgente repetido
Eu te amoamoamoamoamo,
verdade fulminante que acabas de desentranhar,
eu me precipito no caos,
essa coleção de objetos de não-amor.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Curto.

Seriam precisos 2 meses, 3 semanas e 6 dias para esquecer. Não tem problema. A partir de hoje acabam-se as preocupações: nada mais irá encher, nada mais irá sufocar, nada mais será lembrado. Adeus.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Guardar

Antonio Cícero não é apenas o irmão da cantora Marina, é mais que isso, um dos melhores poetas vivos brasileiros, na minha humilde opinião.

Segue um de seus poemas dos quais mais gosto:

Guardar

Guardar uma coisa não é escondê-la ou trancá-la.
Em cofre não se guarda coisa alguma.
Em cofre perde-se a coisa à vista.
Guardar uma coisa é olhá-la, fitá-la, mirá-la por
admirá-la, isto é, iluminá-la ou ser por ela iluminado.
Guardar uma coisa é vigiá-la, isto é, fazer vigília por
ela, isto é, velar por ela, isto é, estar acordado por ela,
isto é, estar por ela ou ser por ela.
Por isso melhor se guarda o voo de um pássaro
Do que um pássaro sem voos.
Por isso se escreve, por isso se diz, por isso se publica,
por isso se declara e declama um poema:
Para guardá-lo:
Para que ele, por sua vez, guarde o que guarda:
Guarde o que quer que guarda um poema:
Por isso o lance do poema:
Por guarda-se o que se quer guardar.

(Antônio Cícero, in: Os Cem Melhores Poemas Brasileiros do Século)