segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Haicai marxiano

Fetichismo da
Mercadoria é marca
Por Marx dada.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Incursões no Haikai (à moda de Guilherme de Almeida)

O agricultor
Lavra suas palavras
Como escultor.

Incursões no Haikai Tradicionalista

Neste inverno
Quero você contente
Mesmo distante.

Nossa Bandeira

Segue abaixo um dos mais belos poemas de Guilherme de Almeida, poeta do qual gosto muito, numa linda homenagem ao Estado de São Paulo.

"Nossa bandeira"

(de autoria de Guilherme de Almeida)


"Bandeira da minha terra,

Bandeira das treze listas:

São treze lanças de guerra

Cercando o chão dos paulistas!

Prece alternada, responso

Entre a cor branca e a cor preta:

Velas de Martim Afonso,

Sotaina do Padre Anchieta!

Bandeira de Bandeirantes,

Branca e rôta de tal sorte,

Que entre os rasgões tremulantes,

Mostrou as sombras da morte.

Riscos negros sobre a prata:

São como o rastro sombrio,

Que na água deixara a chata

Das Monções subido o rio.

Página branca-pautada

Por Deus numa hora suprema,

Para que, um dia, uma espada

Sobre ela escrevesse um poema:

Poema do nosso orgulho

(Eu vibro quando me lembro)

Que vai de nove de julho

A vinte e oito de setembro!

Mapa da pátria guerreira

Traçado pela vitoria:

Cada lista é uma trincheira;

Cada trincheira é uma glória!

Tiras retas, firmes: quando

O inimigo surge à frente,

São barras de aço guardando

Nossa terra e nossa gente.

São os dois rápidos brilhos

Do trem de ferro que passa:

Faixa negra dos seus trilhos

Faixa branca da fumaça.

Fuligem das oficinas;

Cal que s cidades empoa;

Fumo negro das usinas

Estirado na garoa!

Linhas que avançam; há nelas,

Correndo num mesmo fito,

O impulso das paralelas

Que procuram o infinito.

Desfile de operários;

É o cafezal alinhado;

São filas de voluntários;

São sulcos do nosso arado!

Bandeira que é o nosso espelho!

Bandeira que é a nossa pista!

Que traz, no topo vermelho,

O Coração do Paulista!"

sábado, 22 de agosto de 2009

"Il General Cadorna/ scrisse alla Regina/ si vuol vedere Trieste/ t'la mando in cartolina..."

"Il General Cadorna/ scrisse alla Regina/ si vuol vedere Trieste/ t'la mando in cartolina..."
São com essas que num dos contos o filho provoca o pai em "Brás, Bexiga e Barra Funda".
"O General Cadorna/escreve à rainha/ se quer ver Trieste/ a mando num cartão postal...".
Assim ocorre com os EUA no Iraque e no Afeganistão, sustentando governos sem lá muita legitimidade popular, porém dóceis aos afagos do Secretaria de Estado estadunidense. É mais fácil os EUA montarem cartões postais de Jalalabad, Kandahar e Mazar-i-Sharif do que as tropas não só chegarem lá, mas também estacionarem. Foi tamanha a ferocidade das invasões que isso me lembra aquela passagem do "Poderoso Chefão", onde Salvatore Tessio, um dos caporegimes fala que se não reagisse à provocação dos capos Tataglia e Barzini não teria mais lugar para pôr nem seu chapéu no Brooklyn. Assim ocorre agora, não há lugar onde os soldados não levem pedradas. Quando soldados do exército regular, "chicanos" ferrados querendo o greencard ou pessoas sem perspectiva de vida digna nos EUA, dado o caráter exclusório daquela sociedade (como a de todo o mundo capitalista onde o sistema de bem estar social, mesmo incompleto, foi desativado), quando mercenários, contratados pela Blackwater e equivalentes.
As guerras são sempre motivadas por motivos financeiros. Não me venham com o papo de nacionalismo e o caramba a quatro. Tudo bem, há maiores especificidades, mas todas as guerras têm uma preocupação, maior ou menor, com os aspectos econômicos dos beligerantes. O que move a política e o exército não necessariamente é o dinheiro, mas que o interesse final de quem comanda sempre envolve o véu monetário. Como aspirante a economista, acho que vou me esforçar em pensar mais nisso.
Quem for para aquelas bandas, que me mande, por gentileza, uma cartolina, que eu agradeço, minha coleção anda meio órfã de novos cartões.

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Momento Parnasiano

Horas Mortas - Alberto de Oliveira

Breve momento após comprido dia
De incômodos, de penas, de cansaço
Inda o corpo a sentir quebrado e lasso,
Posso a ti me entregar, doce Poesia.

Desta janela aberta, à luz tardia
Do luar em cheio a clarear no espaço,
Vejo-te vir, ouço-te o leve passo
Na transparência azul da noite fria.

Chegas. O ósculo teu me vivifica
Mas é tão tarde! Rápido flutuas
Tornando logo à etérea imensidade;

E na mesa em que escrevo apenas fica
Sobre o papel — rastro das asas tuas,
Um verso, um pensamento, uma saudade.

Gripe Suína, quem viu?

O Luiz Antonio Magalhães é polemista mesmo, porém não é qualquer um que escreve no Observatório da Imprensa.

http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos.asp?cod=551CIR003

LEITURAS DA FOLHA
Cadê a gripe suína que estava aqui?

Por Luiz Antonio Magalhães em 20/8/2009

Nesta quinta-feira, 20 de agosto de 2009, completa-se um mês da publicação da estrondosa chamada "Gripe suína deve atingir 35 milhões no país em 2 meses", que pode ser conferida clicando abaixo, na capa Folha de S. Paulo de domingo, 19/07.

Bem, falta apenas um mês para que o vaticínio da Folha se realize. Segundo um leitor do blog Entrelinhas, até agora o Ministério da Saúde confirma 3.087 pacientes infectados (dados de 18/08), o que representa 0,00882% da "meta" de 35 milhões. O leitor pondera que há realmente subnotificação e propõe uma conta mais favorável à Folha. Considerando que todos os 3.087 infectados sejam casos graves e que se enquadrariam entre os que acabam morrendo da doença, é possível calcular, baseado na taxa de letalidade, o total possível de infectados (basta fazer a conta inversa, considerando assim que os 3.087 representariam os 0,19% de taxa de letalidade no país). Neste caso, seriam 1,625 milhão de brasileiros infectados, ou 4,64% da "meta" de 35 milhões a ser "alcançada" em 19 de setembro, segundo o bravo diário da Barão de Limeira.

Ou seja, a gripe suína precisa pegar de jeito 33 milhões de brasileiros em um mês para a Folha estar correta. O vírus vai ter que trabalhar forte em setembro para dar conta do recado...

Este observador espera que o ombudsman da Folha volte ao assunto no dia 19 de setembro. Sim, Carlos Eduardo Lins da Silva já repreendeu a redação pela barbeiragem. Mas precisa agora registrar que a barriga foi realmente vexaminosa.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Coluna do Santayana - Jornal do Brasil - 20/08/2009

Posto aqui artigo publicado no Jornal do Brasil de hoje (que é um fantasma do que já foi um dia) do Mauro Santayana, articulista do qual gosto muito, e leio sempre que posso.

Desdobrando seus argumentos de forma lógica, e exibindo exemplos interessantes de nossa história, Santayana relaciona a chegada de Obama ao poder sem que com isso os paradigmas da defesa dos interesses externos dos EUA tenham mudado: é a sobrevivência energética da América a qualquer custo. Para concluir, ressalta a importância do desenvolvimento de nossas Forças Armadas e da Petrobrás, de modo a garantir a soberania energética nacional, essencial para um país que quer ser livre e desenvolvido

Extraído da Resenha Eletrônica do Ministério das Relações Exteriores

http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe3.asp?ID_RESENHA=610786

Noticiário - Seleção Diária de Notícias Nacionais - 20/08/2009

Jornal do Brasil

Assunto: Coluna/Coisas da Política
Título: 1b O mestiço e o americano/coluna
Data: 20/08/2009
Crédito: Mauro Santayana

Mauro Santayana
Ao considerar justa a guerra contra o Afeganistão, o presidente dos Estados Unidos reafirma a velha política imperialista de seu país, iniciada com a agressão ao México, em 1846. Muito pode ter mudado com um presidente mestiço, mas nada mudou com o presidente americano em relação ao mundo. Quando um povo é diretamente agredido – como fomos, em 1942, com o ataque a navios mercantes brasileiros por submarinos alemães na costa de Sergipe – mais do que seu direito é seu imperioso dever responder ao ataque, qualquer que seja a correlação de forças. Churchill observou que é melhor defender-se com as armas do que curvar-se a ultimatos ou aceitar acordos humilhantes, como os impôs Hitler a seu antecessor Chamberlain, em Munique, contra a Tcheco-Eslováquia: os que resistem são mais respeitados pelos vencedores, mesmo que percam a guerra. Não têm sido assim os Estados Unidos, como vimos no Vietnã e no Iraque e estamos vendo no Afeganistão.

Ao avançarem rumo ao Oeste, fazendeiros norte-americanos ocuparam, pouco a pouco, o Texas, que pertencia ao México, e declararam a independência do território. Para garanti-la, os americanos moveram guerra ao México, em 1846, e se apoderaram de 1,3 milhão quilômetros quadrados de seu território. Dispondo de tecnologia militar avançada, não lhes foi difícil expandir o domínio sobre os territórios vizinhos, e compraram com dinheiro o que não podiam conquistar com as armas, como o Vale do Mississipi, adquirido dos franceses, e o Alasca, comprado do Império Russo.

Reconheça-se nos anglo-americanos – que só se desentenderam quando da independência dos Estados Unidos e, de forma episódica, na little war de 1812 – visão estratégica de longo alcance. Logo que se descobriu no petróleo a fonte promissora de energia, a Inglaterra e os Estados Unidos se mobilizaram a fim de controlar os mananciais do Oriente Médio. No início do século passado, com a produção em série de automóveis, a cobiça pelo óleo que encharcava as areias da Península Arábica e do Golfo Pérsico se intensificou. Por detrás da disputa entre a Áustria e a Sérvia, os alemães pretendiam seu quinhão de petróleo naquela área, e buscavam fortalecer os seus laços com os otomanos, que a controlavam politicamente. Para combatê-los, Londres enviou à região o coronel Thomas Lawrence, o famoso guerrilheiro Lawrence da Arábia.

Toda a política internacional do século 20 teve como eixo o problema da energia, o primeiro e mais importante fator de produção, o mais importante insumo da vida. Como nos ensinam os compêndios elementares de física, a matéria é apenas um comportamento da energia. Essa é a razão da declaração de Obama, de que permanecerá no Afeganistão até derrotar os “terroristas”. Para assegurar apoio popular a essa decisão, o presidente usa o mesmo argumento de seu antecessor Bush: a necessidade de proteger a sociedade norte-americana contra os que foram capazes de atingir o símbolo de seu poder, ao destruir as torres de Manhattan. Mas, ainda que Bin Laden fosse o atacante, com isso nada teria o povo afegão.

É também o petróleo (mais do que as drogas) que explica os acordos militares com a Colômbia. Um dos mais argutos conhecedores e analistas da política internacional, o professor Moniz Bandeira, tratou do assunto em artigo recente. Washington se preocupa com o governo de Caracas e, ao assegurar e aumentar a produção colombiana, exercem pressão diplomática e militar contra Chávez, a fim de continuarem importando o óleo dos ricos poços venezuelanos.

Sempre estivemos advertidos do risco que corremos com a descoberta dos imensos depósitos de petróleo no profundo subsolo marinho abaixo da camada de sal. O petróleo não é apenas um negócio. É o mais grave problema estratégico do mundo, e deve estar sob o rígido controle do Estado. Já que o governo anterior comprometeu a Petrobras, com sua política antinacional, é necessário preservar o novo e mais profundo lençol petrolífero, com a criação de nova empresa, sob o controle total do povo brasileiro, mediante o Estado Nacional. A CPI da Petrobras procura impedir que a nova empresa se forme. Repete-se o mesmo cerco ao interesse nacional nos anos 50, quando pretendiam frustrar o desenvolvimento da grande empresa, hoje a maior do país. A prudência recomenda o fortalecimento das Forças Armadas, a fim de que não sejamos compelidos a aceitar ultimatos, nem acordos que reduzam a nossa soberania, como os está aceitando o governo de Bogotá.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

O perigo da utopia

Originalmente publicado no Jornal "Valor Econômico" e reproduzido pelo portal Carta Maior, segue interessante crônica do professor J. L. Fiori, cujos textos muito admiro. Enjoy!

http://www.cartamaior.com.br/templates/colunaMostrar.cfm?coluna_id=4416

O perigo da utopia

Se as utopias de esquerda levaram - em muitos casos - ao totalitarismo, a utopia liberal e sua permanente negação do papel do poder e da preparação para a guerra, na história do capitalismo e das relações internacionais, leva, com freqüência, os intelectuais e dirigentes destes países mais fracos, à uma posição de servilismo internacional.

"...a geopolítica do equilibro de poderes e a prática do imperialismo explícito deixaram de fazer sentido devido a uma série de novos fatos históricos [...], esta abordagem das relações internacionais não tem mais espaço no mundo em que vivemos, do pós-colonialismo, da globalização, do sistema político global, e da democracia [...] com a globalização, todos os mercados estão abertos e é inimaginável que um país recuse vender a outro, por exemplo, petróleo a preço de mercado..[...] Resulta ainda daqueles fatos que a guerra entre grandes países tambem não faz mais sentido [...] No século XX, as guerras entre as grandes potências não faziam sentido porque todas as fronteiras já estavam definidas?"

LUIZ CARLOS BRESSER PEREIRA, "O mundo menos sombrio", Jornal de Resenhas, nº 1, 2009, USP, p:7.

Na segunda metade do Século XX, em particular depois de 1968, tornou-se lugar comum a crítica dos "novos filósofos" europeus, que associavam a utopia socialista ao totalitarismo. Mas não se ouviu o mesmo tipo de reflexão, depois da década de 80, quando a utopia liberal se tornou hegemônica e suas idéias tomaram conta do mundo acadêmico e político. Logo depois da Guerra Fria, Francis Fukuyama popularizou a utopia do "fim da história" e da vitória da "democracia, do mercado e da paz". E apesar dos acontecimentos que seguiram, suas idéias seguem influenciando intelectuais e governantes, sobretudo na periferia do sistema mundial.

Basta ver a confusão causada pelo anúncio recente da decisão norte-americana de ampliar sua presença militar na América do Sul. Com a instalação ou ampliação de sete bases militares no território colombiano, que deverão servir de "ponto de apoio para transporte de cargas e soldados no continente e fora dele".( FSP,5/8/09) O governo norte-americano justificou sua decisão com objetivos "de caráter humanitário e de combate ao narcotráfico". A mesma explicação que foi dada pelo governo americano, por ocasião da reativação da sua IV Frota Naval, na zona da América do Sul, no ano de 2008 : "uma decisão administrativa, tomada com objetivos pacíficos, humanitários e ecológicos" (FSP, 9/0708).

Uma das funções dos diplomatas é participar deste jogo retórico que às vezes soa até um pouco divertido. E cabe aos jornalistas o acompanhamento destes debates sobre distâncias, raio de ação dos aviões, ameaça das drogas, etc. Todavia os intelectuais têm a obrigação de transcender este mundo da retórica e dos números imediatos, e também, o mundo das fantasias utópicas, o que as vezes não acontece, e não se trata - evidentemente - de um problema de ignorância. Pense-se, por exemplo, na utopia liberal do "fim das guerras" que já não fariam mais sentido entre os grandes países, e contraponha-se este tese com a história passada e a história do próprio século XX e XXI.

Segundo a pesquisa e os dados do historiador e sociólogo norte-americano, Charles Tilly: "de 1480 a 1800, a cada dois ou três anos iniciou-se em algum lugar um novo conflito internacional expressivo; de 1800 a 1944, a cada um ou dois anos; a partir da Segunda Guerra Mundial, mais ou menos, a cada quatorze meses. A era nuclear não diminuiu a tendência dos séculos antigos a guerras mais freqüentes e mais mortíferas [ alias] , desde 1900, o mundo assistiu a 237 novas guerras, civis e internacionais.. [enquanto.] o sangrento século XIX contou 205 guerras" (Charles Tilly, Coerção, capital e Estados europeus , Edusp, 1996, p. 123 e 131.) Mesmo na década de 1990, durante os oito anos da administração Clinton, que foi transformado na figura emblemática da vitória da democracia, do mercado e da paz, os EUA mantiveram um ativismo militar muito grande. E ao contrário da impressão generalizada, "os Estados Unidos se envolveram em 48 intervenções militares, muito mais do que em toda a Guerra Fria, período em que ocorreram 16 intervenções militares". (Bacevich, 2002: p:143). E mais recentemente, os "fracassos" militares dos EUA, no Iraque e no Afeganistão - ao contrário do que dizem - aumentaram a presença militar dos EUA na Ásia Central e o cerco da Rússia e da China, envolvendo, portanto, preparação para a guerra entre três grandes potências.

Em tudo isto, fica clara a dificuldade intelectual dos liberais conviverem de forma inteligente, com o fato de que as guerras são uma dimensão essencial e co-constitutiva do sistema mundial em que vivemos, e que portanto não é sensato pensar que desaparecerão. Ao contrário do que pensam os liberais, a associação entre a "geopolítica do equilíbrio de poderes" e as guerras, não se restringe ao século XIX, ( já havia sido identificada na Grécia), e o sonho do "governo mundial" das grandes potências, já existe pelo menos desde o Congresso de Viena, em 1815, sem que isto tenha impedido o aumento do numero dos estados e das guerras nacionais.

Neste tipo de sistema mundial, por outro lado, é muito difícil acreditar na possibilidade do "fim do imperialismo", e ainda menos, neste início do século XXI, em que as grandes potências - velhas e novas - se lançam sobre a África, e sobre a América Latina, disputando palmo a palmo o controle monopólico dos seus mercados e das fontes de energia e matérias primas estratégicas. E soa quase ingênua a crença liberal nos "mercados abertos", num mundo em que todas as grandes potências impedem o acesso às tecnologias de ponta, não aceitam a venda de suas empresas estratégicas, e protegem de forma cada vez mais sofisticada seus produtores industriais e seus mercados agrícolas.

Neste ponto, chama atenção a facilidade com que os economistas liberais confundem os mercados de petróleo, armas e moedas, por exemplo, com os mercados de chuchu, queijos e vinhos. Em tudo isto, o importante é que a utopia liberal também pode ter conseqüências nefastas, sobretudo para os países que não estão situados nos primeiros escalões da hierarquia de poder do sistema mundial. Se as utopias de esquerda levaram - em muitos casos - ao totalitarismo, a utopia liberal e sua permanente negação do papel do poder e da preparação para a guerra, na história do capitalismo e das relações internacionais, leva, com freqüência, os intelectuais e dirigentes destes países mais fracos, à uma posição de servilismo internacional.


José Luís Fiori, cientista político, é professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Excertos literários - I

"(...)
Foi então que aconteceu o inesperado: Talib, voz grossa e troante, triscou no assunto:
"Não sentes saudades do Líbano?"
Yaqub ficou pálido e demorou a responder. Não respondeu, perguntou:
"Que Líbano?"
Halim tomou mais um copo de café, franziu a testa, olhou sério para o filho. Zana mordeu os lábios, Rânia seguiu com os olhos, até encontrar o japiim-vermelho que piava num galho de seringueira, perto de mim.
"Por enquanto, só há um Líbano", respondeu Talib. "Quer dizer, há muitos, e aqui dentro cabe um". Ele apontou para o coração." - página 88
Trecho de "Dois Irmãos", de Milton Hatoum, Edição de Bolso da "Companhia das Letras" de 2006.

Mil setecentos e quatro motivos

Mil setecentos e quatro motivos
A comemorar nós estamos tendo
Seja andando, passeando ou correndo,
Sempre juntos, companheiros, ativos.

Mãos dadas, caminhamos sempre altivos
Confidentes, sempre se conhecendo,
Mais e mais e logo aprendendo,
Que o importante é estarmos vivos.

Se tão íntima é nossa amizade,
Sentindo no seu beijo doce sabor,
Sentimento firme, não ansiedade.

Com cuidado manejo minha flor,
Para que nunca sofra de saudade,
É a forma na qual expresso o amor.