sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Gota d'água

Tudo está na natureza
encadeado e em movimento -
cuspe, veneno, tristeza,
carne, moinho, lamento,
ódio, dor, cebola e coentro,
gordura sangue e frieza.
Isso tudo está no centro
de uma mesma e estranha mesa
Misture cada elemento -
uma pitada de dor,
uma colher de fomento,
gota de terror
O suco dos sentimentos,
raiva, medo ou desamor
produz novos condimentos,
lágrima, pus e suor
Mas, inverta o segmento,
intensifique a mistura,
temperódio, lagrimento
sangalho com tristezura,
carnento, venemoinho,
remexa tudo por dentro,
passe tudo no moinho,
moa a carne, sangue e coentro,
chore e envenene a gordura
Você terá um unguento,
uma baba, grossa e escura,
essência do meu tormento
e molho de uma fritura
de paladar violento
que, engolindo, a criatura
repare o meu sofrimento
com a morte, lenta e segura.

Chico Buarque e Paulo Pontes

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Histórias sem pé nem cabeça - parte 3

Não quero começar com ladainha velha, mas dizem que sorrir é o melhor remédio.
Melhor remédio para quê? Para quem?
Para começar, sorriso é uma palavra medonha, risível, propícia para um, ora pois, sorriso.
Não necessariamente trespassa alegria. Pode ser o cúmulo do fingimento, e do cinismo. Mas também pode ser a forma de demonstrar felicidade dos timidos.
Gregório era assim. Cínico, mas tímido. Só sorria quando conveniente. Vergonha de sorrir pelos dentes caninos um tanto sobressalentes na bocarra de fauno que possuía. Só o temor mórbido por médicos, dentistas, enfermeiras e afins justificavam aqueles dentes. Era cínico por sempre chegar atrasado e dizer que havia perdido o ônibus, sendo que todos sabiam que ele vinha a pé, não só pela notória sovinice, mas pelo fato de morar a menos de 15 minutos do expediente.
Era tido como inseguro, porém preciso; pouco tátil, porém com boa acurácia nas ações.
Mateus sorria, e muito. Sorriso importado, havia feito seu tratamento ortodôntico com um dentista que se dizia formado nos EUA, mas todos sabiam que era formado numa faculdade de menor fama. E Mateus teria mais motivos para sorrir agora. Esperou por anos aquele momento. Tinha medo de pegar a pessoa errada. Ao pensar que tudo finalmente iria dar certo, sorriu mais uma vez, sozinho, no espelho. Era bom no diálogo, mas ruim na avaliação; crítico em demasia, mas conivente com os erros.
Gregório não era sensitivo, mas acordou com um temor estranho aquele dia. Acho que foi aquele maldito macarrão à parisiense que me trouxe essa azia, pensou. E sorriu. Até aquele momento ninguém sabia de nada, e nem saberia. Por mais que quisesse sair dessa vida, sorrir, mudar, algo o detinha.
Mateus acordou, e se barbeou. Dias especiais merecem trajes completos, e com a graça de um dândi pôs até colete e chapéu panamá, para combinar com a fatiota de casemira especialmente feita para ele por seu Candinho, e não pelo Germano Petersen, como ele sempre dizia. Mas, estranhamente, não teve vontade de sorrir.
Chegar ao escritório, aquele dia, foi difícil para os dois, devido à forte chuva. Gregório chegou, resmungou bom dia e sentou em sua cadeira, já vislumbrando o quão maçante seria o dia. Mateus chegou quieto, como um gato, e foi direto para a mesa de Gregório.
Ao ver-se frente a frente com seu algoz, Gregório gelou. Tu és homem de sorte, disse Mateus, mas hoje ela acabou. Nem deu tempo para sorrir, pois a testa coberta pelo chapéu panamá foi atingida por um tiro vindo da pistola Walther que Gregório guardava para aquele dia. Bom na acurácia. Bom na precisão. Ao ser levado preso, Gregório pensou, por quê demoraram tanto para descobrir. E sorriu, com seus dentes de pastor alemão.

terça-feira, 16 de setembro de 2008

À Deriva

O sistema financeiro internacional encontra-se à deriva.
Quem diria que ter dinheiro na poupança seria um bom 'investimento'.

domingo, 14 de setembro de 2008

Aviso do Blog que ninguém conhece, ninguém lê

FA Campinas, parte 2, dia 28/09, 10 da matina, no Cerecamp. Bora?

Meu quase-herói.

Nunca gostei de falar que tinha ídolos, sempre por medo de ir contra a religião e crer em algo tão alto quanto Deus. Tenho consciência (logo eu, tão crítico da ignorância consciente) de que tal visão é estrita, mas ainda assim continuo a agir da mesma maneira.
Falemos então de heróis. Não tive grandes heróis na minha infância, no mais muito carinho e respeito pelo meu pai, mas sempre fui obcecado pela busca de algo que não fosse palpável, algo que não fosse herói.
Foram 20 anos e alguns meses, se não em busca, mas ao menos à espera, à espreita por qualquer movimento um pouco diferente que possibilitasse a descoberta do tal herói, que tivesse vivido e feito algo enquanto eu vivesse e tivesse consciência de seus atos.
Demorei, e tenho medo de estar precipitado. Devo dizer que não tenho, nem jamais terei heróis, porém este homem foi um que chegou perto.
Acompanhei por dois longos anos a ascenção deste homem, sua firme atuação em um dos países mais pobres do mundo. Fernando Lugo representa a esperança do seu povo, personificando o 'pay' que seu título de bispo da Igreja Católica já lhe concede por direito e costume popular. Decidir se engajar num país tão pródigo de pensadores e benfeitores, e rico em figuras nefastas em sua história, como, atualmente, o general Lino Oviedo e o ex-presidente Nicanor Duarte Frutos, é para poucos, e corajosos. Se ele conseguiu negociar com o outrora irredutível Joseph Ratziger, Sua Santidade Bento XVI, para obter a tão necessária licença de função, algo inédito na Igreja Católica, para respeitar a Constituição paraguaia e assumir o seu tão merecido cargo.
A primeira ação será a renegociação, justa, sim, mesmo sendo brasileiro, após estudar o caso, conclui isto, do tratado de Itaipu, onde a empresa Itaipu Binacional compra o excedente de energia hidroelétrica por direito paraguaia a preços até quatro vezes menores que os cobrados no mercado internacional por megawatt.
Tenho consciência de que nas relações internacionais não há lugar para benevolência, mas sim interesses, porém esta é uma questão prática. Para quê termos um inimigo em potencial se podemos cooperar? Nada de necessidade de autoflagelação, que a Guerra do Paraguai atrasou aquele país irremediavelmente em seu progresso. Nada disso, apenas negócios, que torço para que sejam bem cuidados pelo Bispo Lugo e seus auxiliares.
Na esperança de que o Pay Lugo não me decepcione muito e logo (ninguém é perfeito, sempre há espaço de margem de erro, pela humanidade de todos), despeço-me.
Pay Lugo, meu quase-herói.

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Tortuosos Caminhos

Fiquei um bom tempo sem escrever.
Menos mal. A humanidade não perdeu quase nada.
Culpa disso são os tortuosos caminhos. Ao ler sobre os depoimentos de mais uma comissão de investigação no congresso nacional vejo quão sinuosos são os caminhos da coisa mais reta que existe, a verdade. Onde homônimos podem ser antônimos (vide certa senhora bem apessoada e gráuda na última instância da justiça nacional) e sua boa vontade com o colarinho-branco certo), apóia-se bandidos que ao menos geram empregos e quem tenta fazer algo é discriminado. Grampo regulado, algemas reguladas, governo fraco, blogosfera relativamente insipiente.
Nesses tortuosos caminhos viverei.

domingo, 6 de julho de 2008

Quadrinha

Meu querido amigo, um adendo
Esqueci-me, caro leandro
Era para ser apenas um meandro
Pior que horrível, horrendo.

domingo, 15 de junho de 2008

Histórias sem pé nem cabeça - parte 2

Minha cara,

Você acha que eu nunca saberia. Eu soube. Como? Eu vi, eu vi com esses olhos que a terra ainda há de comer, eu vi, eu vi, eu vi! Você dirá que não há mal em mãos dadas, amigos podem muito bem andar assim, que sou antiquado e que a sociedade já aceita isso,coisa e tal, mas não! Aquele contato, por mais pueril que pudesse parecer, transcendia a relações mais que fraternas, cheirava a cio, carne, sexo. Sou e serei pudico, mas isso não posso admitir. Ao ar livre, enquanto o meu patrício estava a exaurir sua paciência e sua vida numa labuta ingrata. O que direi para o meu amigo? Não sabe a sinuca de bico que você me meteu! Hei de avisá-lo da sua infidelidade ou hei de pensar dele como traído, corno, sem nada falar e torcer para que ele desmascare esta farsa, hein?
Não consigo pensar em outra coisa. O fulaninho que com você estava não conheço, tive ódio mortal na hora, juro-lhe por tudo que é mais sagrado.
Mas, por mais que a odeie momentaneamente, não consigo ter ódio de você. Não consigo nem me esforço para ter.
Ainda é tempo de você mudar de idéia. Estarei sempre aqui esperando por você. Você sabe o porquê.

Hilda Hilst

Deu-me o amor este dom:
O de dizer em poesia.
Poeta e amante é o que sou
E só quem ama é que sabe
Dizer além da verdade
E da vida à fantasia.

E não dá vida o amor?
E não empresta beleza
Àquele que se quer bem?
Que não vos cause surpresa
O perceber neste amor
Fidelidade e nobreza.

E se eu soubesse que à morte
Meu muito amar conduzia,
Maior nobreza de amante
Afirmar-vos inda assim
Que ele tal e qual seria
Como tem sido agora

Amor do começo ao fim.

terça-feira, 10 de junho de 2008

Faca de dois gumes

Acabo de assistir o filme 'Faca de dois gumes', de 1989, que passou ontem de madrugada no Intercine. Meu Deus, fico pensando, a história bem que poderia ter ocorrido na vida real!
'Dinheiro não adiantou', não sei, fiquei chocado, profundamente, não sei. Tudo por causa do pressuposto de que toda ação tem uma reação, ou seja, é o sentido faca de dois gumes aplicado a vida 'real'; como uma mentira pode fazer com que algumas verdades apareçam. Dessa faca prefiro não usar para cortar o bife do jantar.

domingo, 8 de junho de 2008

Penetra surdamente no reino das palavras

"Penetra surdamente no reino das palavras/ Lá estão os poemas que esperam ser escritos", já nos disse Carlos Drummond de Andrade em seu belo poema 'A procura da poesia'.
A busca pela palavra certa, que exprima a condição e/ou sentimento da ação, ao menos para mim, é penosa.
Sempre brinco com as pessoas com as quais eventualmente troco e-mails dizendo que adoro ruminar o que escrevo, não é preguiça nem nada, é simplesmente pensar na palavra certa, que caracterize o ato e o fato.
O problema é penetrar de cabeça aberta, não querendo ofender. Sempre pego-me a fazer brincadeiras politicamente incorretas usando os termos mais polidos possíveis. A língua brasileira é fértil, porém quando comparada a língua latina, perde muito na ironia, pois ao permitir o uso de declinações, o latim dá-nos o poder de 'julgar' a ação conforme a terminação das palavras da oração.
Os poemas que esperam ser escritos que fiquem esperando, acho que hoje não será o dia.

terça-feira, 3 de junho de 2008

Ouço falar

Ouço falar o quanto está longe
Não vejo a hora de lhe ver voltar
Não importará o horário
A casa toda eu vou arrumar.

Hei de colocar roupa nova,
E ainda mandar rezar
Treze missas pela benção
Pelo tempo que tive de esperar.

Dizem que um sinal foi mandado
Mas eu me recusei a acreditar
O telegrama era curto, mas claro
Preferi ficar a esperançar.

Se você voltar e eu não estiver,
Não se afobe, vá jantar
Deixarei a comida no forno
É riscar o fósforo para esquentar.

Antes eu não segurava
E dava para ficar a chorar
Agora achei o conforto
E prefiro ficar a pensar.

Pensar o quanto Deus é bom,
Ou seria mal por lhe levar,
Para lugar onde não posso lhe ver,
Para lugar onde não posso lhe tocar.

Ontem mesmo, peguei seu caderno
E fiquei a tarde a decifrar
Teria você deixado alguma mensagem
Que agora muito iria me confortar.

Estou esperando, apareça
Mas não esqueça de avisar,
Estarei com certeza na labuta
Mas sempre esperando você chegar.

Prometo não ficar cansado,
Mas agora preciso me deitar
Para que tenha sono tranqüilo
E com você me seja permitido sonhar.

Personagens da literatura que ninguém lembra - parte 1

Chiru Mena e Cacique Fagundes, em 'O Tempo e o Vento';
Encarnación, em 'A relíquia';
Conselheiro Acácio, apesar do acacismo nunca ter sido tão utilizado como está a ser, em 'O primo Basílio';
Salvatore Tessio e Genco Abbandando, em 'O Poderoso Chefão';
Sic Transit, em 'Pilatos';
Vilela, o marido traído, em 'A cartomante';
Araquém, em 'Iracema';
Compadre Salustiano, na história do 'Analista de Bagé';
Vereador Luiz Vieira, em 'Boca do Inferno';
Enoque, em 'O matador';
Esperidião, em 'República dos Assassinos';
Leitão Leiria, em 'Saga';

domingo, 1 de junho de 2008

Histórias sem pé nem cabeça - parte 1

"Haveria de ter graça a ação. Mas não teve. Deveria ter ficado mais experto, mas nela confiei. Como poderia desconfiar daquele anjo de candura?
Dois anos, dois anos meu Deus, vendo-a, cumprimentando-a, sem poder com ela falar ou nela tocar. Seus olhos ariscos me assustavam, não posso negar. Coragem, pura e simples, com mulheres, nunca tive, tudo culpa de um maldito trauma idiota de infância, mamãe com medo que me tivesse qualquer contato com outra garota senão com Soraia, a tal prometida desde o meu nascimento.
Soraia não me atraia de maneira alguma, eu queria era ela. Seu nome era Helena. Helena, que vivia me enchendo sobre minhas melenas, até o fatídico dia.
Nunca gostei de café, mas com Helena convidando, até a mais amarga cafeína poderia se transformar na mais doce sacarose. Café puro, veio a proposta, 'se você cortar suas melenas, terá a Helena', coisa estranha, Helena só se referia a ela mesma na terceira pessoa.
Fiquei doido, maluco, e respondi, 'topo, topo e topo'. Emoção maldita, nem perguntei o porquê de tal ato.
Pedi para o bendito barbeiro cortar minhas melenas cultivadas com orgulho, tais quais as de meu finado pai. Não gostei do resultado, mas Helena valia. Ao sair do salão, deparo-me com Soraia. Soraia nada me pergunta, só chora. 'Helena me contou que você cortou suas melenas por ela'. Respondi que ela estava enganada, não gostava delas, só as deixava em homenagem a papai. E fui cobrar a promessa de Helena. Ela solenemente ignorou-me, 'prova o que eu lhe disse?' ela retorquiu. Fui enganado, magoei Soraia, e ainda perdi as melenas. Tudo para ficar com Helena. Fechei a cara, fui para minha sala, e chorei."

domingo, 25 de maio de 2008

Aventuras de domingo

Domingo, Dei Domini, dia de macarrão, frango, missa e futebol.
Posso dizer que hoje usufruí de quase tudo isso e mais um pouco...
Há dois meses, o pessoal de Campinas e região de uma comunidade do Orkut chamada Futebol Alternativo - FA (http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=49510), da qual faço parte, combinava em se encontrar num jogo tipicamente alternativo, de modo a honrar o que temos em comum: o amor ao nobre 'esporte bretão' onde ainda impera a força de vontade e a raça, apesar destes dois últimos atributos não terem sido vistos há algum tempo, inclusive hoje; o jogo em questão era Campinas x Red Bull Vinhedo, válido pela quarta divisão do futebol paulista.
Acordei cedo, como sempre gosto de fazer, mas nunca faço, para ser sincero, comprei pão e mortadela, tomei café correndo, ia perder hora, mas meu pai, gentimente (a bem da verdade, minha mãe intercedeu por mim), levou-me até o campo da Mogiana, onde pisei pela primeira vez.
Chegando lá, deparo-me com um rapaz com a camisa do Íbis, comprando ingresso, o que achei absurdo, jogo da quarta divisão com ingresso pago! Três reais meia-entrada, não deu para reclamar, comprei, e já fui atrás do cara com a camisa do Íbis, percebendo que era um dos que havia combinado em ir, e nisso o pessoal foi avolumando-se. Ao final da matutina espera, éramos oito, oito heróis num universo de aproximadamente 100 pessoas que se aventuraram a acordar cedo num domingo, para assistir a um jogo às 10 horas da manhã, de times tão desconhecidos quanto alternativos.
Começa o jogo, Red Bull plenamente superior ao Campinas, por mais que torcesse pela Águia Campineira, mas não teve jeito... Conversa de primeira, cornetagens básicas, gol do Red Bull, estávamos torcendo para o Campinas, não teve jeito, Rauber, o rapaz com camisa do Íbis, em um acesso de fúria, quase acerta o marcador do gol com um corneto de amendoim, podendo a vir prejudicar (rs, ah, conta outra...) o combalido time da Águia com a perda de mando de campo. Oxalá o árbitro não tenha posto isto na súmula.
Campinas tenta, mas não chega, e, quando chega, é barrado por um goleiro do Red Bull em dia inspirado, final do primeiro tempo.
Intervalo com direito a Coca, pastel, cerveja, Careca, aquele mesmo, o craque do Guarani, São Paulo, Napoli e Seleção Brasileira, comendo como um mortal qualquer um pastel de carne encharcado, que, hoje, não encarei.
Segundo Tempo, ai, segundo tempo. Resolvemos invadir a parte dos 'Sócios Torcedores', conforme placa informativa na entrada desta parte, aí a diversão começou. Após malabarismos nos equipamentos de TV (pois é, alguém gravou o jogo, não sei para quem assistir...), pulamos para perto da comissão técnica do Red Bull, um doping apurado com a ingerência do energético de marca comercial supracitada ocorrendo! Bradamos contra o vento, mas não adianta... você acha que a Federação Paulista irá punir por doping um time da quarta divisão??? Sem chance!
Corneta vai, corneta vem, as pérolas saindo da boca dos parceiros da FA, coisas do tipo 'Red Bull está a enterrar o futebol-arte', 'Paulo Sérgio, chega mais! Você lembra da Copa de 94??? (....) Eu lembro! Você lembra de Brasil e Camarões??? (...) Eu lembro!! (...) Você entrou??? Nãããããooooo!!!!!!!! ' (Paulo Sérgio foi um bom ponta-direita, que jogou muitos anos na Alemanha e foi convocado para a Copa de 94, não tendo entrado em nenhum jogo, e hoje é o técnico do Red Bull Vinhedo), 'Gilmar Fubá tava lá na Gold, tomando Whisky, viado, tá de ressaca, não vai jogar, né???' (Gilmar Fubá, para quem não conhece, foi um volante revelado pelo Corinthians famoso pela grosseria de seu futebol mas também pela raça demonstrada em campo), e assim vai, Gilmar Fubá vindo falar com o pessoal e tudo, um pênalti para o Red Bull, muito bem convertido, 2 a 0 no placar de um jogo com pouco futebol, mas, até agora, bastante alternativo.
O término do jogo marcou o início de uma nova epopéia. A busca por Paulo Sérgio e Gilmar Fubá, mas, acima de tudo, a suplicação por uma camisa, que nos foi esnobada pelos jogadores do Red Bull. Não tem problema, quem não dá hoje, vai ter que dar amanhã! A simpatia demonstrada, porém, pelo técnico e pelo jogador compensaram tudo.
Fomos embora de mão vazia, mas, com certeza, com os músculos da face mais relaxados dado o nível de piadas, chistes e besteiras que foram proferidas e saudadas com a mais exacerbada das risadas, palavrões e palavras torpes soltadas a torto e direito, num local onde até o mais pudico dos homens se solta, e grita contra tudo e contra todos, penso que melhor terapia do grito e do choque que estádio de futebol, não há.
Após o jogo, confraternização no bar 1º de abril, com direito a cerveja gelada, torresminho e bolinho de carne seca, enfim, um domingo de aventuras por mares nunca dantes navegados.
Saí mais pobre monetariamente, cansado e meio atordoado, mas feliz. Isso não tem preço.

sexta-feira, 23 de maio de 2008

Haicai torto

Prima pela alegria mas,
Foge quando triste, ai,
está, árduo fazer haicai,
Felicidade apenas.

quinta-feira, 22 de maio de 2008

A fuga

Uma vez, quando criança, inventei de 'fugir'. Qual não foi minha decepção ao descobrir que o mundo era maior do que a esquina da minha casa. Às vezes fico decepcionado por não ter suficiente coragem e disponibilidade para fazer isso novamente. Estranho, não?
E começo a pensar. Como fugir? De onde? Para onde? Com quem? O que levar?
Fugir sem nada, só com a roupa do corpo, que tal?
Camiseta amarrotada, calça larga, sandálias Havaianas no pé. Dinheiro no bolso? Nenhum. Só a disposição. Para sair, basta abrir a porta suavemente, fechando o trico com cuidado. Ninguém há de escutar. Desço pelas escadas, não há vivalma por esse caminho. Vou pela garagem, para evitar contato humano. Venta, penso em pegar uma blusa, mas não, uma prova de fraqueza, logo no início, assim não dá. Na portaria, saio pela saída dos carros, fingindo ignorar os veementes protestos do porteiro. Subo a rua de casa, já começo a sentir o pé sujo da poeira do asfalto de má qualidade. Começo a ver as primeiras vacas. Penso no ar bucólico que ainda posso ter perto de casa, ar este com dias contados pela especulação imobiliária. Penso que poderia agir. E decido voltar. Fugir não é o melhor que posso fazer. Tergiversar é tentador, quiçá perigoso. Decido voltar para ler, para adquirir aquilo que nunca poderão tirar de mim, ao contrário das vacas que tanto aprecio ao acordar de manhã, algum conhecimento que me fará sair deste mundo, por instantes. Chego em casa, ninguém se deu conta de que havia fugido. Desisto de ler, deito e durmo. Melhor fuga não há.

quarta-feira, 21 de maio de 2008

O início

Noite de Corpus Christi. Insone estou. E tenho vontade de falar. E não há ninguém que queira me escutar. Então decidi falar no deserto, tal qual João Batista. E falar, e falar, e falar, e, por ora, nada dizer.
A eterna busca, o que seria? Não adianta, por mais que nos achemos completos, sempre estamos em busca daquilo que irá nos redimir, no algo mais. Não se pode contentar com aquilo que se tem, porém viver em função daquilo que não se pode ter é perigoso, e contagioso, vide Hitler e a catarse alemã de 1933-45.
Mas nada é fixo. Hoje estou em busca, amanhã, quem sabe, hei de encontrar o que procuro. Se não achar, danei-me; se encontrar, irei atrás da próxima dúvida ou meta. Nada de balela de 'O segredo', eita idéia requentada. O negócio é agir. Sou eterno defensor da ação, por pior que ela seja.
E agora, o que farei? Irei dormir.