quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Histórias sem pé nem cabeça - parte 3

Não quero começar com ladainha velha, mas dizem que sorrir é o melhor remédio.
Melhor remédio para quê? Para quem?
Para começar, sorriso é uma palavra medonha, risível, propícia para um, ora pois, sorriso.
Não necessariamente trespassa alegria. Pode ser o cúmulo do fingimento, e do cinismo. Mas também pode ser a forma de demonstrar felicidade dos timidos.
Gregório era assim. Cínico, mas tímido. Só sorria quando conveniente. Vergonha de sorrir pelos dentes caninos um tanto sobressalentes na bocarra de fauno que possuía. Só o temor mórbido por médicos, dentistas, enfermeiras e afins justificavam aqueles dentes. Era cínico por sempre chegar atrasado e dizer que havia perdido o ônibus, sendo que todos sabiam que ele vinha a pé, não só pela notória sovinice, mas pelo fato de morar a menos de 15 minutos do expediente.
Era tido como inseguro, porém preciso; pouco tátil, porém com boa acurácia nas ações.
Mateus sorria, e muito. Sorriso importado, havia feito seu tratamento ortodôntico com um dentista que se dizia formado nos EUA, mas todos sabiam que era formado numa faculdade de menor fama. E Mateus teria mais motivos para sorrir agora. Esperou por anos aquele momento. Tinha medo de pegar a pessoa errada. Ao pensar que tudo finalmente iria dar certo, sorriu mais uma vez, sozinho, no espelho. Era bom no diálogo, mas ruim na avaliação; crítico em demasia, mas conivente com os erros.
Gregório não era sensitivo, mas acordou com um temor estranho aquele dia. Acho que foi aquele maldito macarrão à parisiense que me trouxe essa azia, pensou. E sorriu. Até aquele momento ninguém sabia de nada, e nem saberia. Por mais que quisesse sair dessa vida, sorrir, mudar, algo o detinha.
Mateus acordou, e se barbeou. Dias especiais merecem trajes completos, e com a graça de um dândi pôs até colete e chapéu panamá, para combinar com a fatiota de casemira especialmente feita para ele por seu Candinho, e não pelo Germano Petersen, como ele sempre dizia. Mas, estranhamente, não teve vontade de sorrir.
Chegar ao escritório, aquele dia, foi difícil para os dois, devido à forte chuva. Gregório chegou, resmungou bom dia e sentou em sua cadeira, já vislumbrando o quão maçante seria o dia. Mateus chegou quieto, como um gato, e foi direto para a mesa de Gregório.
Ao ver-se frente a frente com seu algoz, Gregório gelou. Tu és homem de sorte, disse Mateus, mas hoje ela acabou. Nem deu tempo para sorrir, pois a testa coberta pelo chapéu panamá foi atingida por um tiro vindo da pistola Walther que Gregório guardava para aquele dia. Bom na acurácia. Bom na precisão. Ao ser levado preso, Gregório pensou, por quê demoraram tanto para descobrir. E sorriu, com seus dentes de pastor alemão.

terça-feira, 16 de setembro de 2008

À Deriva

O sistema financeiro internacional encontra-se à deriva.
Quem diria que ter dinheiro na poupança seria um bom 'investimento'.

domingo, 14 de setembro de 2008

Aviso do Blog que ninguém conhece, ninguém lê

FA Campinas, parte 2, dia 28/09, 10 da matina, no Cerecamp. Bora?

Meu quase-herói.

Nunca gostei de falar que tinha ídolos, sempre por medo de ir contra a religião e crer em algo tão alto quanto Deus. Tenho consciência (logo eu, tão crítico da ignorância consciente) de que tal visão é estrita, mas ainda assim continuo a agir da mesma maneira.
Falemos então de heróis. Não tive grandes heróis na minha infância, no mais muito carinho e respeito pelo meu pai, mas sempre fui obcecado pela busca de algo que não fosse palpável, algo que não fosse herói.
Foram 20 anos e alguns meses, se não em busca, mas ao menos à espera, à espreita por qualquer movimento um pouco diferente que possibilitasse a descoberta do tal herói, que tivesse vivido e feito algo enquanto eu vivesse e tivesse consciência de seus atos.
Demorei, e tenho medo de estar precipitado. Devo dizer que não tenho, nem jamais terei heróis, porém este homem foi um que chegou perto.
Acompanhei por dois longos anos a ascenção deste homem, sua firme atuação em um dos países mais pobres do mundo. Fernando Lugo representa a esperança do seu povo, personificando o 'pay' que seu título de bispo da Igreja Católica já lhe concede por direito e costume popular. Decidir se engajar num país tão pródigo de pensadores e benfeitores, e rico em figuras nefastas em sua história, como, atualmente, o general Lino Oviedo e o ex-presidente Nicanor Duarte Frutos, é para poucos, e corajosos. Se ele conseguiu negociar com o outrora irredutível Joseph Ratziger, Sua Santidade Bento XVI, para obter a tão necessária licença de função, algo inédito na Igreja Católica, para respeitar a Constituição paraguaia e assumir o seu tão merecido cargo.
A primeira ação será a renegociação, justa, sim, mesmo sendo brasileiro, após estudar o caso, conclui isto, do tratado de Itaipu, onde a empresa Itaipu Binacional compra o excedente de energia hidroelétrica por direito paraguaia a preços até quatro vezes menores que os cobrados no mercado internacional por megawatt.
Tenho consciência de que nas relações internacionais não há lugar para benevolência, mas sim interesses, porém esta é uma questão prática. Para quê termos um inimigo em potencial se podemos cooperar? Nada de necessidade de autoflagelação, que a Guerra do Paraguai atrasou aquele país irremediavelmente em seu progresso. Nada disso, apenas negócios, que torço para que sejam bem cuidados pelo Bispo Lugo e seus auxiliares.
Na esperança de que o Pay Lugo não me decepcione muito e logo (ninguém é perfeito, sempre há espaço de margem de erro, pela humanidade de todos), despeço-me.
Pay Lugo, meu quase-herói.

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Tortuosos Caminhos

Fiquei um bom tempo sem escrever.
Menos mal. A humanidade não perdeu quase nada.
Culpa disso são os tortuosos caminhos. Ao ler sobre os depoimentos de mais uma comissão de investigação no congresso nacional vejo quão sinuosos são os caminhos da coisa mais reta que existe, a verdade. Onde homônimos podem ser antônimos (vide certa senhora bem apessoada e gráuda na última instância da justiça nacional) e sua boa vontade com o colarinho-branco certo), apóia-se bandidos que ao menos geram empregos e quem tenta fazer algo é discriminado. Grampo regulado, algemas reguladas, governo fraco, blogosfera relativamente insipiente.
Nesses tortuosos caminhos viverei.